domingo, 16 de agosto de 2015

Incongruências em fantasmas, assombrações e afins

Autor: Mario Arthur Favretto


Muitos acreditam que quando uma pessoa morre uma parte imaterial de si passa para outro plano, ou para outra existência, apesar de em Eclesiastes 3:20 haver a menção de que do pó veio e ao pó voltarás, pois todos vão a um mesmo lugar. Steven Pinker (2013), psicólogo evolucionista menciona que mesmo em crianças há algo no funcionamento do cérebro das pessoas que torna difícil entender a finitude da vida. Quando crescemos construímos melhor o conceito de fim da vida, nosso cérebro compreende o fim dos corpos. Ainda assim, algumas pessoas apreciam a possibilidade de uma continuidade como um consolo para a curta e sofrível existência humana.
É comum que pessoas procedam com supostos testemunhos sobre aparições de fantasmas ou de entidades sobrenaturais. Porém, há certos aspectos destas aparições que demonstram que estas podem mais ser fruto da mente humana do que a prova de uma realidade sobrenatural. Analise desta forma, para que fantasmas e assombrações usam roupas? Em muitos relatos de aparições e pessoa está usando roupas, mas para quê? A roupa é feita de tecidos vegetais, animais ou sintéticos, como esta roupa acompanha a pessoa numa vida além morte? Se a pessoa não sente frio e nem calor, pois não possui mais um corpo material, se possui mais um propósito de atender normas sociais contra nudismo e exposição de partes sexuais (que segundo dizem, anjos não possuem), então por que fantasmas e assombrações usam roupas? Não seria por se tratar apenas de um lapso no funcionamento neuronal da pessoa que fez com que ela tivesse uma alucinação?
Outra questão importante, por que os fantasmas geralmente têm uma aparência cadavérica, mórbida e assustadora? Não é por que a mídia impõe essa visão das assombrações e assim quando a pessoa por algum motivo alucina é remetida a esse aspecto? Se o corpo material é transitório, por que haveria de o “corpo” pós-morte ter a aparência de um corpo vivo ou manter todas as características do momento da morte? Se a assombração é algo imaterial, como poderia agir com o material, encostando em objetos, produzindo sons e afins, se seu meio de contato com o material já apodreceu? Ou ainda, por que as assombrações só aparecem a noite, justamente quando as pessoas estão com sono ou quando acordam em meio a noite, e assim, fica-se mais suscetível que o subconsciente interaja com o consciente produzindo uma alucinação, um sonho lúcido ou uma paralisia do sono?
Desta forma, vemos que as supostas afirmações sobrenaturais, são cheias de incongruências que levam ao entendimento de serem uma explicação inventada para outros fenômenos materiais que levam a pessoa a observar algo que não existe. Ou seja, fenômenos biológicos, como alucinações. É possível que as pessoas só aceitem a ideia de alucinação quando acabarmos com certos preconceitos associados a esse fenômeno e que assim levam a ocorrência da psicofobia, preconceitos em relação a pessoas que possam ter funções psicológicas/neurológicas alteradas. Até que isto ocorra, a explicação sobrenatural será considerada mais bela e reconfortante, afinal, serviria como um reforço para as crenças das pessoas, do que a explicação relacionada a um problema, mesmo que ocasional, no funcionamento neuronal destas.
É necessário afirmar que a alucinação não é necessariamente algo patológico, tanto que pode ser induzida por estados de estresse ou consumo de diferentes substâncias químicas. Almeida (2004), afirma que 10% a 30% da população sem patologias mentais já teve algum tipo de alucinação. Ou seja, estes estados de consciência alterados podem ser mais comuns de ocorrerem do que imaginamos, necessitando a plena compreensão de tratar-se de algo físico nos neurônios e não algo relacionado a existência de fantasmas e assombrações.
Até há pouco tempo a epilepsia era considerada como fruto de possessão, em algumas culturas divina e em outras demoníaca, porém com o avanço do conhecimento científico esclarecido que tratava-se de uma disfunção no cérebro (ver Magiorkinis e colaboradores, 2010), que pode ser medicada e tratada. Assim não precisamos mais realizar exorcismos em pessoas que tenham epilepsia, como afirma a Bíblia (Mateus 17: 15-18). Somente com a difusão do conhecimento científico, do pensamento crítico e reflexivo, poderemos compreender que os fenômenos de fantasmas e assombrações, ocorrem dentro de nossas cabeças, que podem ser ocasionais ou podem ser sintomas de algo mais sério.

Referências:
Almeida, A.M. 2004. Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas. Tese. Departamento de Psiquiatria. Faculdade de Medicina. Universidade de São Paulo. 278p.
Magiorkinis, E.; Sidiropoulou, K.; Diamantis, A. 2010. Hallmarks in the history of epilepsy: epilepsy in antiquity. Epilepsy & Behavior 17: 103-108.
Pinker, S. 2013. Como a mente funciona. Ed. Companhia das Letras. 3ª edição. 672p.

Nenhum comentário:

Postar um comentário