domingo, 8 de abril de 2018

A efemeridade da vida


Autor: Mario Arthur Favretto

A vida é um sopro, frágil e fraca, escapa de nós facilmente. Um ato ingênuo e ignorante destrói a vida de uma pessoa. Pensamos que pelo fato de acordarmos todos os dias sequencialmente ela assim continuará, nos iludimos com algumas frequências sequenciais. Esgotamos nossas forças, sufocamos nossas criatividades e vontades, em prol de um trabalho diário que a sociedade nos impõe, buscamos o além daquilo que precisamos, desgastando nossos corpos e mentes, definhamos no envelhecimento onde somos cavalos de visão fechada, culturalmente forçados a puxar o máximo de carga, rodando sem sair do lugar. Partimos e retornamos ao mesmo ponto, enquanto o tempo de vida escapa.
Afogamo-nos em mágoas, intrigas e confusões que não levam a nada. Lidamos com pessoas fofoqueiras, que buscam sempre “jogar lenha na fogueira, para ver o circo pegar fogo”. Destroem-se os laços diários por comentários arrogantes, egoístas ou malévolos de pessoas ingênuas, que não sabem que a vida não se resume ao trabalho e a intrigas diárias. Nadamos em hipocrisia social, onde todos querem acusar os erros dos outros, mas não enxergam os próprios erros. Esbravejam por todos os cantos sobre o que é moral e certo, porém se esquecem de cuidar do mais importante, suas próprias ações e pensamentos.

Pintura de Philippe de Champaigne (1650).

Deixamos de viver um momento por ficarmos pensando em um real a mais que podemos ganhar, ansiamos pelo dinheiro a mais para saciar nossa ganância e esquecemo-nos do tempo presente. Pensamos demais no futuro, e esquecemos o presente, sendo que o futuro pode nem mesmo chegar. Amanhã meu coração pode parar, dentro de alguns minutos uma veia em meu cérebro pode estourar... a morte nos espreita sempre, e pensarmos nela é uma lembrança da fragilidade e efemeridade da vida e do quão ignorante nós somos por desejarmos a grandiosidade e a ganância, quando no final tudo será apagado e esquecido.
Quantos milhões de pessoas já existiram? Todos esquecidos, apenas um nome sem significado em uma lápide ou em um atestado de óbito, ou um esqueleto escondido em algum lugar. Todos os sonhos e aflições, todos os desejos e preocupações, todas as brigas e felicidades, tudo se foi para sempre. Nós existimos por um curto período de tempo e depois somos varridos do privilégio da existência. Por alguns anos podemos continuar vivos nas lembranças de outras pessoas, em fotos, vídeos ou palavras escritas. Mas nada resiste às garras do tempo, diante dele tudo se esvai. Quantos viveram antes de nós, mortes em brigas, guerras, disputas, acidentes? Todos se foram, nenhum sinal de sua existência permaneceu e nenhum sinal de nós sobrará para as futuras gerações. Desejamos a vida eterna, desperdiçamos nosso tempo e energia em busca dela, mas nunca a encontraremos. Só nos resta viver esta vida, livre das tolas preocupações mundanas, sem desperdício de alegria, sem desperdício de sorrisos pelas ideias contrárias. Sem desperdício de viver, pelo fato de ainda mais querer. Também sem desperdício da tristeza, pois também ela é necessária, tola ilusão de que seremos felizes todos os dias. A vida se vai, nos despedimos dela como se fosse pouco tempo, mas o tempo sempre é tempo, o tempo foi suficiente, nós com nossa ignorância é que o gastamos com tolices humanas. Tenha para viver, e viva, não tenha além e não viva. O momento é certo, o amanhã pode ser o fim.